A Vila e sua Fundação

Em 1211, a 30 de Julho, D. Afonso Faz carta de doação e perpétua segurança em Coimbra, ao mestre de Évora D. Fernão Eanes, de uma terra situada entre Santarém e Coruche. Devido à boa característica natural, cedo se afigurou a importância estratégica da sua localização. Acredita-se que na existência de um Castro Lusitano, pertencente à primeira Idade do Ferro. De facto, não restam dúvidas quanto ao motivo que esteve na base da escolha do local para o estabelecimento da primitiva fortaleza medieval de Avis. A Sede da futura Ordem Militar de Avis, para ali transferida por D. Afonso II, por volta do ano de 1211, resultou da instituição, a 13 de Agosto de 1162, por D. Afonso Henriques. Os seus cavaleiros ficaram na altura dependentes da Ordem de Calatrava, da qual só se libertam no tempo de D. João I. 
D. Afonso II deixa expressa, aquando da doação das terras, a vontade de ver construído no cimo de um outeiro, um castelo , bem como a obrigação de edificar a povoação e construir a igreja conventual , futura sede da Ordem.

Os trabalhos de fortificação e edificação do castelo ocorreram por volta de 1214, quando à frente da Ordem estava o mestre D. Fernão Anes. A primeira fase de conclusões das obras terminou por volta de 1223, no tempo do mestrado de D. Fernão Rodrigues Monteiro, sendo outorgado um segundo foral à vila a 20 de Agosto, por Martim Fernandes. Este foral por ser concedido por pelo mestre da Ordem, não terá tido registo nas Chancelarias pelo que não terá havido confirmação regia e registo do dito foral de 1223. 

O território concedido à Ordem de Avis neste primeiro momento distribuía-se por uma vasta extensão e situava-se na zona compreendida entre o Tejo e o Guadiana, desde a linha que passava por Santarém, Coruche, Abrantes, Elvas. O mestrado chegou a possuir 21 povoações, 49 comendadorias, 71 priorados e a designar os curas de 140 paróquias! 

Da lenda e do Topónimo

Conta a lenda que o Mestre os seus Cavaleiros buscando um lugar para se estabelecerem junto das terras fronteiras com os mouros, depois de deixarem a vila de Vaiamonte, viram sobre uma árvore, duas águas, tomando tal como bom prognóstico decidiram dar início, a 15 de Agosto ao povoamento do local, onde veio a nascer a vila de Aviz, em consideração às ditas Aves; Estas ficariam para sempre lembradas nas armas das Vila, às quais se junta a cruz flordelizada em campo de ouro, com remates de flor de liz na forma da Ordem Militar de Calatrava. Baptista Lima refere que o vocábulo Aviz acusa, sobretudo a abundância de aves no local; 

O castelo era construído por uma cerca muralhada, circundada por 6 torres, das quais se destacava a Torre de Menagem. As Portas existentes eram: Porta D´Évora, Porta de S. Roque, Porta Debaixo e Porta do Postigo. Das seis torres existentes no período Medieval restam apenas três perfeitamente visíveis a da Rainha ou do Convento, a de S. Roque e a de Santo António. 
A Torre de Menagem situar-se-ia junto ao Antigo Palácio do Prior Mor, onde hoje se encontram os serviços da Câmara Municipal de Avis, foi mandada construir pelo Condestável D. Pedro, no Séc. XV, mentor das principais obras no edifício Conventual neste período e que deixou para a posteridade uma magnifica cisterna, de bocal estrelado, nos antigos claustros do Convento, com a sua divisa Paine pour Joie (Pena por Glória), a relembrar a nobreza de espírito que assistia à sua personalidade.

Do primitivo edifício conventual existem somente as fundações medievais entretanto ocupadas pelas sucessivas construções que acrescentaram e modificaram o espaço na sua aparência e na sua funcionalidade; Das campanhas manuelinas temos o testemunho do Claustro, da magnifica Sala do Capítulo, actualmente ocupada pelo Museu Municipal, Sala dos Monges, e ainda da Sacristia da Igreja do Convento, onde a marca do mecenas, o ilustre. Jorge de Lencastre, filho ilegítimo de D. João II, ficaria, até aos dias de hoje, como testemunho do seu Governo à frente da Ordem Militar de S. Bento de Avis. 
Na toponímia da vila ficaram cristalizados até aos dias de hoje termos que denotam actividades a que se dedicavam os seus moradores como a Rua dos Mercadores, por exemplo, a Travessa do Forno, ou a presença de minorias étnicas, como a Rua da Mouraria. 

O crescimento da Vila Medieval obedeceu a uma estrutura urbana típica de Bairro Gótico, podendo observar-se dois núcleos perfeitamente distintos, por um lado a zona onde está implantada a antiga sede do convento de S. Bento de Avis, a Este da vila, e a Oeste, uma outra realidade constituída por espaços públicos e de exercício da civilidade como seja, o pelourinho, os Paços do Concelho Medievais, as praças, e espaços de culto, a igreja matriz os passos de procissão, a capela da Misericórdia. 

O Núcleo Conventual é constituído pelo Claustro de Leitura , Sala dos Monges, Sala do Capítulo, Sacristia dependências este das campanhas manuelinas, embora no caso da Sacristia com elementos decorativos já posteriores. A Igreja de fundação medieval, apresenta uma feição já moderna, bem como a parte a Sudeste do Convento conhecido como as ruínas do Convento Novo em que é clara a mão do arquitecto real Baltazar Alvares. Em termos decorativos o recheio da igreja remonta-se às campanhas de obras barrocas, que tiveram o seu apogeu na elaboração do magnífico retábulo (1694) em estilo Nacional, obra do mestre lisboeta José Antunes, que se destaca por nunca ter sido dourado. Destaque ainda para três peças escultóricas barrocas de grande qualidade, uma N. Senhora da Assunção, um S. Bento e uma Santa Escolástica. É ainda de referir o azulejo padrão que forra algumas das capelas do velho cenóbio bem como o magnífico coro alto já do período de D. Maria I, ao qual pertencem também a grande maioria dos elementos decorativos das janelas, retábulos e capelas laterais. 

Com a chegada do Período Moderno e a perda de influência das Ordens Militares no panorama nacional assiste-se também a um declínio de influência e poder da Ordem Militar de S. Bento de Avis agora já afastada do tempo áureo do Período Medieval. 

Marta Alexandre